Todos os anos é assim: olho pela janela e descubro que a árvore ali ao fundo começa, novamente, a mudar.
Sim. É cíclico.
Em Outubro, contraria a lógica do frio, deixa cair as vestes e fica em tronco nu. Passa o Inverno despida, frágil, a tremer de frio nos dias de vento. Chego a imaginá-la constipada, de cachecol ao pescoço e pingo no nariz! Houve anos em que receei a sua morte…
Mas, a seguir, chega sempre a Primavera - e ela teima em renascer: seus troncos parecem mais robustos, lançam-se em direcção aos arbustos das redondezas e aos céus, e ganham um brilho único! Depois, começa a vestir-se… folha a folha, enfeita-se de verde, até ficar envolta em pesado manto, voltando, assim, a inverter a (minha) ordem natural das coisas - afinal, a medida que ela se veste só concebo despir-me!
Assim, há dias reparei que mudáramos de estação.
Hoje o seu brilho já foi maior e o número de folhas maior.
Hoje a minha Árvore mostra-me que já é Primavera.
'Árvore' [MBarbosa]